terça-feira, 21 de junho de 2016

O açúcar é droga

O açúcar, em termos neurológicos, e de neurotransmissores, e de prazer, e da precocidade com que é introduzido, tem consequências mais nefastas do que o tabaco. A frutose, a dextrose, todos os açúcares criam dependência. Entramos no domínio dos recetores cerebrais, no domínio do prazer, da compensação, do conforto. Se eu me habituar a consumir açúcar e a ter prazer pelo açúcar, há modificações epigenéticas - genes que são acionados e que fazem com que eu passe a ter mais tendência para o açúcar. Ou para o sal. E a mesma dose não surte o mesmo efeito a longo prazo. Portanto vou aumentando o açúcar.

É óbvio que precisamos de açúcar, nomeadamente de glicose, porque é esse o nosso combustível. É a nossa lenha celular. Mas não é disso que estamos a falar quando dizemos a palavra açúcar.

Os açúcares de que precisamos estão presentes nos cereais, no leite e derivados, nas frutas.

Aos mais pequeninos costumo dizer que o açúcar é um bocadinho venenoso, diz a Dra. Júlia Galhardo. Aos pais explico que o açúcar adicionado causa os mesmos problemas metabólicos que o álcool. Lembro que o álcool vem, precisamente, do açúcar. Do açúcar dos tubérculos, do açúcar das frutas. E que a consequência é exatamente a mesma: o chamado "fígado gordo". A curto prazo traduz-se em alterações nas análises. Mais tarde traduz-se em tudo aquilo que contribui para o síndrome metabólico: diabetes tipo 2, hipertensão arterial, alteração do colesterol no sangue, aumento do ácido úrico. E, a longo prazo, tudo isto se traduz em alterações cardiovasculares. Enfarte precoce do miocárdio, acidente vascular cerebral... São doenças que os pais associam aos pais deles.
Júlia Galhardo, pediatra

As crianças já não sabem o que é água. No almoço e no jantar, bebem refrigerantes. Não acredito que seja falta de informação. Toda as pessoas sabem que bolachas com chocolate, leite achocolatado, gomas, bolos, estas coisas, fazem mal. É mais fácil ir no carro comendo bolachas e outras coisas, a caminho da escola.